O RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO
ORIGEM, FILOSOFIA, ESSÊNCIA
A MAÇONARIA
A maçonaria é uma instituição universal. Mais do que isso, é uma filosofia. Mais do que
isso, é uma filosofia de vida. E, mais do que isso, é um estado de espírito. No sentido
contrário, havendo o estado de espírito, os homens livres e de bons costumes se juntam
aos similares em filosofia de vida, em filosofia e se associam em instituições maçônicas.
A maçonaria é, então, associativa e congrega homens com objetivos comuns, dentro dos
princípios fundamentais estabelecidos pela ordem maçônica.
Sua origem, a nosso ver, vem de tempos imemoriais. Entre os homens da caverna já
deviam existir aqueles que se diferençavam do demais pelo seu comportamento,
princípios, espírito de indagação. Era o maçom das cavernas.
No tempo da construção dos grandes templos e catedrais, apareceu o maçom operativo,
corporativo, com a missão de edificar obras de importância e de transmitir os seus
conhecimentos aos que deveriam sucedê-los, os companheiros e aprendizes.
Depois, veio a maçonaria especulativa, que admitia os interessados nos ofícios e na
investigação. A verdade era o seu objetivo.
A MAÇONARIA SIMBÓLICA
A maçonaria moderna teve início com a fundação da Grande Loja de Londres, em 1717,
formada pela associação de maçons que se reuniam em tabernas (O Ganso e o Grilo, A
Coroa, A Macieira e A Taça e as Uvas). Foi a primeira Potência fundada e elegeram um
Grão-Mestre.
A Constituição de Anderson, encomendada pelo Grão-Mestre àquele pastor presbiteriano,
veio dar estrutura à Instituição.
Os maçons da região de York tinham outra visão da maçonaria. Defendiam a soberania e
a independência das lojas e os antigos usos e costumes. Por isso, chamavam os da
Grande Loja de Londres de “Modernos” ou “Aceitos”, em contraposição a eles, que se
autodenominavam “Antigos”. Esses, em 1753, constituíram uma outra obediência, a dos
“Antigos Maçons”.
Esta divisão persistiu por 60 anos, quando, em 1813, juntaram-se, formando a Grande
Loja da Inglaterra, obediência que perdura até os dias atuais. A Grande Loja da Inglaterra é a
casa mãe da maçonaria moderna. Só admite os graus simbólicos, aprendiz, companheiro e mestre,
e adotam o Rito de Emulação, também conhecido erroneamente como Rito de York.
O PROCESSO INICIÁTICO
A iniciação é a o processo pelo qual se distingue a ordem maçônica e que deve ser o
centro da atividade em loja. Através dela se procura abrir a consciência humana e
pesquisar o justo equilíbrio entre a razão humana e os impulsos instintivos e que trarão a
satisfação, a paz e a serenidade.
A iniciação é um processo individual dentro do cenário de uma coletividade e que permite
ao indivíduo levar os novos valores para a vida profana, fora de nossos templos.
Pode-se praticar a filosofia e a filantropia sem rito, sem rituais e sem paramentos. Esses,
entretanto, o rito, os rituais e os paramentos são indispensáveis para a iniciação e para o
processo iniciático e que, só através dele, se pode atingir o universal.
A resposta às grandes questões humanas, como o nosso lugar no universo, nossa
angústia diante da morte, a interpretação dos grandes mistérios da humanidade e a
interpretação da transcendência, particularidades de cada consciência, são assimiladas
através do processo iniciático.
Esta é a razão pela qual o R∴E∴A∴A∴ que praticamos difere da concepção dos maçons
americanos, para quem o G∴A∴D∴U∴ é somente o Deus revelado. No espírito do Rito,
tudo é símbolo. O G∴A∴D∴U∴ é um símbolo, interpretado como todos os símbolos, de
acordo com a consciência de cada um.
Para ser admitido em nossa ordem é necessário ser filósofo, filantropo e humanista, mas,
no interior de nossos templos, a atividade dos trabalhos é centrada na iniciação, nossa
especialidade. Todo o resto pode ser feito no mundo profano, em outras associações, tão
ou mais competentes, inteligentes e eficazes.
RITOS E RITUAIS
O mestre Aurélio assim define RITO:
1. As regras e cerimônias que se devem observar na prática de uma religião.
2. Qualquer cerimônia de caráter sacro ou simbólico que segue preceitos
estabelecidos.
3. Sistema de organizações maçônicas. 4. As normas do ritual.
Poderíamos, em nosso caso, afirmar que RITO é o conjunto dos princípios, regras e
cerimônias que caracterizam uma prática maçônica. Existem vários ritos adotados pelas
obediências maçônicas, como o Moderno, o Brasileiro, o de Emulação ou de York, o
Adonhiramita, o Escocês Antigo e Aceito e outros. Destes, o mais difundido é o Rito
Escocês Antigo e Aceito, o que nós praticamos. Todos eles levam, indistintamente, a
prática da maçonaria em sua essência, cujos princípios fundamentais são obedecidos.
Distinguem-se por certos princípios e práticas, às vezes conflitantes.
Ritual é forma com que se realizam as cerimônias e práticas do rito.
Então, RITO é a essência, RITUAL é a forma de praticá-lo.
A MAÇONARIA FILOSÓFICA OU ALTOS GRAUS: ORIGEM
O mestre maçom investigador, insatisfeito com os conhecimentos até então adquiridos,
procurou uma forma de se aprimorar e obter respostas às grandes questões existenciais.
Daí a procura e a razão da existência dos Altos Graus.
O R∴E∴A∴A∴ nasceu na França, vindo, provavelmente de corporações escocesas de
Kilwining, na Escócia. Maçons do Oriente, após guerras na Palestina, teriam se deslocado
para a Escócia e foram os responsáveis pela disseminação da maçonaria, muito mais que
a Grande Loja da Inglaterra.
No Século XVII proliferava o comércio de altos graus, de toda sorte de ritos, com
aventureiros aproveitando-se da crendice e vaidade humanas.
Em 24 de novembro de 1754, foi fundado na França o Capítulo de Clermont, num sistema
escocês de 7 graus. Seu fundador foi o Cavaleiro de Bonneville.
Em 1758, foi fundado, por Pilet, em Paris o “Conselho Soberano dos Imperadores do
Oriente e do Ocidente, Grande Loja de São João de Jerusalém”, criando um sistema de
Altos Graus, limitado a 25, sistema oficializado em 1762.
A partir de 1758, até 20/9/1762, o Capítulo de Clermont incorporou-se ao “Conselho dos
Imperadores”. Nesta data, a nova potência sancionou a Grande Constituição de Bordeaux,
contendo 35 artigos, sistema de 25 graus, institutos, estatutos, regulamentos e instruções
suplementares. O “Conselho dos Imperadores” tinha como corpo máximo o “Consistório
dos Príncipes do Real Segredo”. Este Conselho dos Imperadores, em 27/8/1761, nomeou
Etienne (Stephen) Morin, judeu parisiense, Deputado e Grande Inspetor em todas as partes
do Novo Mundo e lhe forneceu uma Patente que o autorizava a instalar Corpos Maçônicos de
todos os graus do sistema de 25 graus. Esse sistema de 25 graus vigorou nos Estados Unidos até 1801.
Morin, ainda em 1761, foi para a Ilha de San Domingos, hoje Haiti, e fundou em Le Cap,
capital da metade ocidental francesa, a Maçonaria Escocesa, iniciando e substabelecendo
seu poder a outros 16 cidadãos, dos quais 13 eram judeus. Outorgou-lhes o título de
Grandes Inspetores Gerais Adjuntos. Um deles, o Ir∴ Hyman Isaac Long, substabeleceu,
depois, seus poderes a outros.
Jean Baptiste Marie Delahogue, francês, em 1773, estava em Le Cap, onde ocupava o
cargo de Notário. Alexandre François Auguste de Grasse (ou Auguste de Grasse-Tilly) foi
para Le Cap em 1788. Lá conheceu Delahogue e casou-se com sua filha em 1789.
Grasse-Tilly, militar, coronel, combateu a insurreição dos “mulatos” em Le Cap, que foi
incendiada pelos amotinados. Fugiu para Charleston, Carolina do Sul, USA, em 1793.
Delahogue e Grasse-Tilly (sogro e genro) estavam em Charleston em 1793. Não há
provas de que já tivessem sido iniciados. Em 1795, apareceram Delahogue e Grasse-Tilly
como fundadores da Loja “La Candeur”, cujo quadro era formado por católicos romanos.
Em 1798, De Grasse-Tilly já era venerável desta Loja.
Em 1796, Hyman Isaac Long, discípulo de Morin, instalou em Charleston um “Grande
Consistório dos Príncipes do Real Segredo”, para trabalhar o grau 24 da Constituição de
1762. Concedeu patentes de “Deputado Grande Inspetor Geral” a 7 Maçons, entre eles
Delahogue e Grasse-Tilly e concedeu-lhes outra Patente que os autorizava a instalarem o
Grande Sublime Consistório dos Príncipes do Real Segredo, o que foi feito em 1797. Claro
era o objetivo da maçonaria francesa de organizar uma maçonaria escocesa regular no
novo mundo, em território americano, de acordo com a Patente de Morin de 1761.
Em 31/5/1801, foi anunciada a fundação do “The Supreme Council of the 33 rd Degree for
the United States of America”, lideradas pelos IIr.: John Mitchell e Frederick Dalcho. A
fundação foi concretizada em 1802, com 9 fundadores, entre os quais Delahogue e
Grasse-Tilly. Interessante notar que em um quadro de fins de 1802 daquele Supremo
Conselho não consta os nomes de Grasse-Tilly e Delahogue, que assumiram os cargos de
Soberano Grande Comendador e Lugar-Tenente Comendador nas Índias Ocidentais
Francesas, respectivamente.
Em 22/9/1804, Grasse-Tilly retorna à França, que se encontra em grande agitação
maçônica, com dissidências e querelas nos Altos Graus. Funda o “Supremo Conselho
para a França”, permanecendo como Soberano Grande Comendador nos períodos 1804-
1806 e 1818-1821. Faleceu em 14/4/1822. O Conde de Sussex, Grão-Mestre da Grande Loja
Unida da Inglaterra (fusão da Grande Loja de Londres e da Grande Loja de York) obteve, em
1819, uma Patente concedida por Decazes, Soberano Grande Comendador da França, para
a fundação do Supremo Conselho do Rito Escocês para a Inglaterra. Para preservar a unidade
da maçonaria inglesa, deixou de cumprir seu intento, dirigindo sua Potência com mãos de ferro.
Em 12/11/1832, Francisco Gomes Brandão, o Montezuma (Francisco Gê Acayaba de
Montezuma) funda o Supremo Conselho do Grau 33 do Brasil, recebendo os documentos
que lhe conferiam o direito em 23/2/1834, do Supremo Conselho dos Países Baixos.
Mário Behring, aproveitando-se de cargos ocupados no Grande Oriente do Brasil,
apoderou-se de documentos importantes e da Patente do seu Supremo Conselho. Com
ela, fundou, em 1927, as Grandes Lojas do Brasil e seus Altos Corpos.
Em 1973, provocado pela crise no Grande Oriente do Brasil, foram fundadas as Potências
Simbólicas Independentes, originalmente agrupadas no Colégio de Grãos-Mestres e, hoje,
formando a COMAB, Confederação Maçônica do Brasil. Foram, também, fundados os
Supremos Conselhos Estaduais, hoje em número de 10, independentes, coordenados e
em sintonia através da Excelsa Congregação.
Os documentos básicos dos Altos Corpos Filosóficos, em ordem cronológica, são:
• O Discurso de Ramsay, de 1737, publicado em 1738.
• A Constituição de 1762, emanada do Conselho dos Imperadores do Oriente e do
Ocidente, complementada por Estatutos, Institutos e Regulamentos Gerais; a
Patente de Morin.
• Os Novos Institutos Secretos e Fundamentais, que, falsamente atribuídos a
Frederico II, embora sejam posteriores, constam com data de 1786.
• As Constituições, Estatutos e Regulamentos para os governo do Supremo
Conselho dos Inspetores Gerais, também atribuídos a Frederico II e com data de
1786, embora sejam posteriores.
• As resoluções do Congresso de Lausane, de 1875.
A ESSÊNCIA DO R∴E∴A∴A∴
O R∴E∴A∴A∴ pode ser definido como um sistema de ensino e aprimoramento humano,
dividido em grupos e graus.
Os três primeiros graus formam a chamada Maçonaria Azul, que agrega as Lojas
Simbólicas, os graus 1, 2 e 3, Aprendiz, Companheiro e Mestre, respectivamente. O reino
é o mineral. É a fase em que se deve trabalhar a tolerância, no desbaste da Pedra Bruta.
O grupo seguinte, dos graus 4 ao 14, ditos Inefáveis, tem a cor verde como símbolo e
simboliza a transição entre o azul e o vermelho.. O reino é o vegetal e dá seqüência ao
processo de aprimoramento do Homem Maçom.
Os graus 15 ao 18 formam os Capítulos e são os graus da expansão, simbolizado pelo
vermelho, a cor do sacrifício. O reino é o animal. São graus caracteristicamente
espirituais.
Os graus 19 ao 30 estão inseridos nos Conselhos de Kadosh, simbolizados pela cor
negra, a cor do luto e da tristeza e que tomam conta do Iniciado ao julgar que seu
sacrifício e ardor foram em vão. É uma fase de elevação rápida. O reino é o humano.
Chega-se, finalmente, ao Supremo Conselho, representado pela cor branca, que simboliza
a paz e a serenidade do Iniciado, quando alcança a plenitude e desenvolveu a
espiritualidade pura, livre de qualquer sentimentalismo. O reino é o divino.
A DEFESA DO RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO
O Supremo Conselho da França, o 1º Supremo Conselho europeu, julga-se no dever e no
direito de preservar o rito em sua essência. Em 1996, juntamente com o Supremo
Conselho da Bélgica (um dos componentes do Supremo Conselho dos Países Baixos,
fundado em 1817), criaram um grupo que tinha como objetivo restaurar o rito em sua
origem, em sua essência. A eles se juntaram Supremos Conselhos de países europeus e
africanos, dadas as influências da França e Bélgica na África. Criaram um grupo que se
reuniu em 1996 em Paris e em 1998 na Bélgica. Aí estava fundado o Grupo dos
Signatários das Resoluções de Paris, Gand, agora acrescidos daquelas tomadas em
reuniões em Atenas e Belgrado e Libreville.
Essas resoluções procuram caracterizar o R∴E∴A∴A∴ em sua essência, sem importar
com os acessórios. Assim, pode-se restabelecer a origem e os pontos fundamentais do
rito. O rito foi muito deturpado no tempo e no espaço. Os americanos o alteraram
profundamente, fazendo com que ele se tornasse uma forma de ascensão econômica e
social, deixando os verdadeiros valores intrínsecos da pessoa humana, da busca da
verdade e do aprimoramento interior.
Abaixo os pontos fundamentais do R∴E∴A∴A∴ aprovados pelos Signatários e que
caracterizam a sua regularidade:
1. O processo iniciático é uma busca espiritual que se apóia na invocação de um
Princípio Superior ou Criador, com o nome de Grande Arquiteto do Universo.
2. Presença do Livro da Lei Sagrada aberto sobre o Altar dos Juramentos. Como tal,
entende-se, para nós, a Bíblia. 3. A referência aos Documentos de Fundação, as
Constituições e Regulamentos de 1762 e as Grandes Constituições de 1786 e as
Resoluções do Congresso de Lausanne de 1875, tais como adotados por todos
os Supremos Conselhos do Mundo.
4. O uso dos dísticos “Ordo ab Chao” e “Deus Meunque Jus”.
5. O respeito ao processo iniciático.
6. Não aceitar a maçonaria mista e não admitir mulheres nos trabalhos regulares das
lojas.
7. O caráter aberto e adogmático da espiritualidade.
O Grupo Internacional do R∴E∴A∴A∴ preocupa-se com a essência do Rito, conforme
resoluções aprovadas e descritas acima. Não leva em consideração particularidades e
tradições, seja nos rituais, nos paramentos e outros aspectos acidentais da execução do
rito. Para exemplificar, entre os membros desse grupo, os Grandes Inspetores Gerais,
Membros Efetivos ou não, usam somente a faixa do grau 33, sem avental e barrete. O
Soberano Grande Comendador usa somente o colar do cargo, sem barrete e avental.
Tudo muito simples e despojado de pompas.
Os rituais também apresentam diferenças. O Supremo Conselho da França, pelo que
informaram, eliminou todas as alterações que porventura foram feitas no tempo e
retornaram aos rituais originais de 1804. Citando um exemplo, o grau 31, o Grande
Tribunal, tem como tema a cripta dos sábios. O Tribunal Vêhmico, do contraditório
Frederico II, não consta nos rituais do R∴∴∴E∴A∴A∴. O grau 32 fica somente com o
Grande Acampamento. Há também mudanças no graus que são iniciáticos e nos que são
de comunicação.
Há uma preocupação constante entre os Supremos Conselhos que compõem a Excelsa
Congregação para a adequação dos rituais que utilizamos em nossas Templos no sentido
de praticar a pureza do R∴E∴A∴A∴. Diálogos têm sido mantidos com o Supremo
Conselho da França, que seria o guardião dos princípios que devem nortear os nossos
procedimentos em Loja, fruto de pesquisas que levaram ao retorno dos rituais originais.
Há algumas diferenças, pequenas, não preocupantes, que podem ser trabalhadas no
sentido de uma prática uniforme, sobretudo naquilo que representa a essência da filosofia
escocesa.
Wagner Colombarolli - Cuiabá-MT, 10 de agosto de 2007.